Seremos resistência: do bordão ao ato
- Tamara Sedrez
- 24 de ago. de 2019
- 3 min de leitura
Ser comunicador em tempos atuais requer mais do que competência, há agora uma grande necessidade de resistência
Durante a jornada, o profissional da comunicação se depara com muitos obstáculos. Logo, é necessário desenvolver algumas características que lhe ajudarão a passar pelas adversidades. Uma delas é a resiliência, e mais do que isso, a resistência. Superar situações de crise e derrubar todas as barreiras é uma habilidade fundamental para qualquer profissional. Não é nada fácil lidar com aquele cliente exigente, com a correria de todos os dias, com aquela pauta que caiu, ou com a inovação que cai nas graças da sociedade e obriga adequações dos métodos de trabalho para um novo modelo. Além disso, algumas questões têm se tornado uma ameaça aos comunicadores, principalmente no que diz respeito à liberdade de imprensa. A partir disso, é preciso colocar em prática um bordão de que tanto se fala ultimamente: seremos resistência.
Enquanto os dias correm, o comunicador é aquele que acompanha o ciclo, mas ao mesmo tempo fica para ver com mais calma o que está acontecendo. O grande drama por trás de tudo isso é que a credibilidade daquele que com muito afinco conquistou um diploma para comunicar com qualidade muitas vezes se encontra em xeque. O por quê disso? Pois olhos, ouvidos e bocas despreparadas reproduzem tudo aquilo que vêem e ouvem.
O jornalismo e a publicidade têm de se reinventar constantemente. Acompanhar a pressa do consumidor nem sempre é fácil e, além da correria, o profissional deve estar a par das inovações procuradas pelo público. Manter tudo isso sob controle é uma corrida diária que garante a sua sobrevivência. O publicitário Guilherme Luiz Krug, cinegrafista e produtor de vídeos na Kaffe Films, diz que a sua área de atuação está em transformação incessante. Para ele, a mente vive em movimento e dispara uma hora na frente do relógio. O cronograma apertado, os imprevistos, a iluminação do próximo local de gravação, as pessoas que irão compor a cena e todos os detalhes são preocupações constantes.
Há transformações que movem pessoas, dinheiro, mercado e hábitos. No entanto, algumas coisas insistem em permanecer. Uma delas é conservadorismo que se mantém impregnado em algumas cabeças. “Estamos em um momento de transição. Tudo vai mudar, mas muitos ainda têm medo da mudança e acham que correm o risco de perder o mercado ou seguidores, por isso acabam censurando trabalhos nos quais nem deveriam interferir, pois não sabem do que se trata”, diz Guilherme. Neste caso, a resistência é essencial aos profissionais da comunicação. O publicitário ressalta ainda que, para haver mudança, é importante que a sociedade se mova rumo a um trabalho colaborativo, que não se direcione cada vez mais para o individualismo.
Profissionais de qualquer área estão expostos a situações desagradáveis ou de crise. Passar por episódios ruins é, portanto, algo para o qual é preciso estar preparado. É difícil lidar com pessoas, mas para trabalhar com comunicação social, faz-se essencial ter tal habilidade. O jornalismo, por exemplo, enfrenta um período em que não é exigida a obtenção de diploma para o exercício da profissão, o que representa um grande problema para os profissionais. Ana Flávia Lourenço terminará o curso de jornalismo na Universidade de Uberaba (MG) em julho de 2019, e diz que a queda do diploma desvaloriza a profissão em um nível absurdo. “A primeira coisa que ouvi quando disse que ia cursar jornalismo era que nem precisa de diploma para ser jornalista”, conta. De fato, a desvalorização da profissão afeta os profissionais da área, inclusive, as Fake News são um problema que o jornalista precisa combater diariamente. Laide Braghirolli, formada em jornalismo desde 2012 pela Unisociesc Blumenau – à época, Ibes Sociesc –, diz que sente a desvalorização da profissão e fala que o profissional precisa provar constantemente a sua competência e trabalhar sempre em busca da credibilidade para se manter no mercado de trabalho.
Diante de tais obstáculos, é preciso resistir. O bordão “seremos resistência” se concretiza na ação diária dos comunicadores. Trabalhar em busca de informações de qualidade, lutar pela valorização, pelos seus direitos e nunca se deixar calar. Esse é o desafio e o desejo do profissional da comunicação social. “Jornalistas precisam de união. Os sindicatos são fragilizados, então, não há um órgão forte o suficiente para defender a liberdade que nós precisamos”, ressalta Ana Flávia. O trabalho desenvolvido com seriedade é o caminho e a união é o recurso. Só assim a comunicação social pode chegar à sua devida valorização e liberdade.
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